quinta-feira, 27 de janeiro de 2011



Se é um vício? Hahaha, acho que é mesmo. Eu não imaginei que se tornaria isso, ainda mais desta maneira.
Não, não é assim, todo dia... é só quando chega mais ou menos esse horário e eu estou lá, à toa, aí eu venho pra cá. E eu sempre dou, no mínimo, 3 voltas correndo... aquelas 3 voltas que era o máximo que eu conseguia quando ia com você.
É, essas 3 voltas  são por você, que me fez pegar gosto pela coisa.
Vício? Ah, não. Acho que você me entendeu errado... meu vício não é vir até aqui no final da tarde e ficar caminhando e correndo em círculos até que meu corpo se canse o suficiente para que meu próprio cérebro pare um pouco de pensar.
Meu vício é VOCÊ.
Sim, eu sei que só te vi uma vez aqui. Mas, mesmo isso, faz com que eu volte sempre, esperando te ver de novo descendo aquelas escadinhas de acesso à pista.
Talvez você passe do meu lado, diminua o passo para me acompanhar e diga ‘oi Leti, como tá? Nunca mais te vi por aí...’ e a gente comece a conversar, falar das coisas que andam acontecendo em nossas vidas.
E a conversa passe a fluir tão natural como sempre foram todas as coisas entre a gente. Vamos lembrar de quando nos conhecemos, vamos rir das coisas engraçadas e idiotas... e eu vou me sentir tão bem ouvindo o som do seu riso de novo!
E a gente vai rir tanto que teremos que parar para tomar fôlego e, ainda rindo, sentaremos no gramado da margem da pista. Enquanto nossa respiração volta ao normal, ficaremos em silêncio ouvindo apenas o som do riso que vai aos poucos diminuindo, mas ainda deixando um sorriso nos nossos rostos.
Então eu, a mesma idiota de sempre, direi para você o quanto senti saudades, mas em seguida curvarei minha cabeça arrependida por falar algo que eu sei que ficará sem resposta. Mas você, contrariando todos os meus receios e tudo o mais que eu sempre soube a seu respeito, me fita com um sorriso maroto nos lábios e diz: ‘Lezinha, eu também senti muito, muito, a tua falta’ e me abraça... um abraço suado, que eu uso como desculpa para fazer cara de nojo,  dizer ‘éca’ e me afastar um pouco, antes que eu derrame alguma lágrima das que marejam meus olhos, enquanto você ri com falsa indignação sobre meu comentário.
Tá bem, admito que fantasio demais sobre as coisas.
 Provavelmente você passaria correndo por mim e, se falasse alguma coisa, seria só um ‘oi Leti’, como daquela vez.
E talvez, depois disso... depois de ver todas as minhas esperanças e expectativas serem nocauteadas por um choque de realidade, eu nunca mais volte aqui.
Talvez eu nunca mais cuide cada pessoa e cada carro que passe por mim na rua...
Talvez eu nunca mais saia de casa, do quarto, da cama.
E, sendo o ‘nunca mais’ tanto tempo quanto o ‘pra sempre’, talvez um dia ele acabe.
Pois é. Agora você fica aí, calado. Não tem o que dizer, né?
Nunca tem.

3 comentários:

Mao Punk disse...

"E, sendo o ‘nunca mais’ tanto tempo quanto o ‘pra sempre’, talvez um dia ele acabe."
Bem observado.

Que desabafo direto, hein? Se isso for só ficção, confesso que convenceu. Mas a mim soou muito verdadeiro. Espero que ele também leia e sinta essa verdade nas linhas.

Quem sabe da próxima vez ele não diga "Leti, também senti muito a sua falta e também tenho algo escrito para te dar."

E quem sabe esse tal escrito possa ser a história de vocês de um novo jeito. ;)

[off] Se você for o cara do texto e estiver lendo isso, pense nas coisas que a Leti escreveu. Será que você não se encontra em tudo isso? Que os corações falem mais alto.

Rodrigo Zarpelão disse...

Olha, muiiito bem escrito teu texto, de verdade. E certamente nao é fictício, é real; as palavras falam por si. Excelente, parabéns.

disse...

Great!
"Essa morte constante das coisas..é o que mais dói" C. F. Abreu
Mas sabemos que tudo tem um fim e um recomeço, e pensando melhor, dá algum alívio [ou não] saber que até os momentos de dor passam. Não esquecendo que sempre retornam--rsrs.
Mas sei, minha cara, sei bem deste vício que falas. Vício difícil este de extrair..
bjs