Está chovendo... o céu está fechado, carregado de uma
maneira que fica difícil acreditar que já existiu sol. A chuva me deprime. Me
deprime ficar engasgada de coisas e então elas não saírem quando eu tento
falar. Me deprime engolir de volta o nó que sobe pela garganta.
O barulho da chuva é tão forte que ninguém escuta o que eu
tenho a dizer? Eu tenho culpa! Eu assumo que tenho culpa! Eu assumo que estou
nessa gangorra entre o arrependimento e o conformismo! Várias e várias vezes eu
preciso desviar meu pensamento dessa vontade louca de sair correndo e voltar para
o conforto, para o comodismo, praquela certeza insana de todos os dias iguais
de novo e de novo e de novo.
Me assusta... os trovões me assustam porque não sei em qual
momento vou acordar! Eu posso acordar ali atrás e então dar graças aos céus,
aliviada por ter sido apenas um sonho... ou posso despertar suspensa num mar de
inquietações e pavor!
Eu estou, sim, apavorada. Não sou o ‘eu’ que eu conheço e
não há ninguém para me trazer de volta quando tudo perde o sentido... fico
perdida apenas ouvindo esse zunido dentro da minha cabeça. Fecho os olhos com
força e fico rezando para que vá embora e traga o sol de volta para amenizar
essa escuridão.